segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tango.

Carlo Celso Lencioni Zanetti

Envelheci !
O viço da alma que se mantém intacto
não encontra parceria no corpo cansado.
As melodias da minha vida se transformaram.
As canções dos Beatles...
My girl envelheceu comigo,
Yesterday se fez mais longe,
Lennon e Harrison se foram.
Hoje, Piazzola me dá o tom,
Anos de solitude,
canções da soturnidade,
Jacques Brel,
Ne me quite pas.
E tenho que seguir em frente
sabendo que me restará,
ao final de tudo,
o fim do nada mais.
Por isso, danço minha dança triste,
um tango lunfardo que me restou.
Bailo com jovens imagens
congeladas no pensamento,
mas perdidas no horizonte
que não descortino mais.
A alma faz-me sentir o viço da juventude,
o corpo me diz que não;
sinto-me chama a lutar contra o vento,
temendo apagar;
revejo meus fantasmas,
meus temores, minhas perdas,
a aceitação do que tive,
a falta de atrevimento
para ter o que sonhava.
Do que fiz não me lamento
pois, vivi bem vivida
a vida que escolhi viver;
a reclamar, somente
o que não arrisquei fazer.
E sigo nesta dança triste,
no tango lunfardo que me restou,
até o último som calar
e a derradeira luz se apagar.

Academia Caçapavense de Letras

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