sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dedicação Materna.


Estava ali um corpo estirado e inerte.

Muitos passavam e poucos davam conta de sua morte por infarto.

Os passantes espiavam e seguiam como se nada tivesse acontecido.

A vida humana pouco ou nada representa.

Ninguém move um músculo de tristeza quando vê um corpo, mas os de curiosidades todos.

Lentamente entre a multidão desliza o insolente rabecão do IML. 

Os funcionários tristemente acostumados abrem-lhe as portas mal cuidadas, pegam o caixão de lata jogando-o ruidosamente ao chão e dirigem-se ao corpo.

Ninguém presta atenção nas cenas que ali ocorrem.

Dentre a multidão surge uma mulher e os funcionários param seus trabalhos.

Ela segue em direção ao corpo, ajoelha-se, puxa-o para seu colo, caricia-lhe o rosto, os cabelos, lhe dirige algumas palavras, mas não há qualquer correspondência.

Mas ela insiste nos carinhos e conversas com quem está inerte em seus braços, quando alguém fala: “Minha Senhora, o que faz é em vão, pois o rapaz está morto, não ouve e nem sente os carinhos que recebe”.

A mulher, que não era uma simples mulher, era uma Mulher-Mãe, olha amavelmente para o falante e, com lágrimas aos olhos responde: “Ele não é um rapaz, é meu filho. Pode ser em vão para você, mas para mim que sou a Mãe não.

Durante toda vida dei muito carinho a este filho, não será agora, neste triste momento que deixarei de fazer”.

Aquele que falava enxugou a lágrima da Mãe, procurou acomodar melhor o corpo em seu colo, e ela agradecendo dá um beijo no rosto gélido do filho e chama os funcionários do rabecão e faz seu último pedido:  “Levem o corpo para as providências, mas o faça com respeito, tal qual ele fez em vida quando cuidava carinhosamente de mim.”

Os agentes desacostumados com pedidos tais atenderam ao que a Mãe lhes fizera. 

Ela seguiu para a casa preparar o adeus ao filho que tanto amava e que também tanto amor lhe dedicara. 

Mas a Mãe não entendia como finda sua missão e triste pega seu terço, ajoelha-se e elevando seu pensamento fez mais um pedido: “Pai Poderoso faça meu filho feliz ao Teu lado”. Amém !

Resignadamente afastou-se fazendo breve, mas piedosa oração.

Brasilino Neto
Academia Caçapavense de Letras

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