domingo, 13 de novembro de 2011

Alzheimer. Poetisa Lília Costa *

      Lília Costa *


— Por que fala comigo? Não te conheço!
— Também um dia não o conhecia, vovô
    Porém se manteve perto, me educou.
— Como é seu nome? Não me lembro...
— Me chamo paciência. Vim retribuir-lhe
   Todo carinho que sempre me dispensou.
— Por que está aí escondida? Seguindo-me!
— Sempre me buscou quando eu fugia, vovô
    Agora você sai, e sou eu quem procura.
— Não quero que me siga. Quem é você?
— Me chamo proteção. Como nas brincadeiras
    Antigas de nós dois, sempre me protegia.
— Por que dança comigo? Que baile é este?
— Ensinou-me a dançar, é seu aniversário vovô
    Tenho a honra de nos seus braços bailar.
— Não é boa dançando. Como se chama?
— Me chamo alegria. Como quando brincávamos
    Que eu era uma princesa e bailávamos.
— Por que almoçar agora? Não quero comer.
— Fazia aviãozinho para eu comer tudo, vovô
    Precisa se alimentar, fiz tudo que adora comer
— Nem sei o seu nome. Não sabe o que gosto.
— Me chamo cuidados. Iguais aos zelos que
    Teve, quando eu pirraçava pra não comer.
— Por que lê este livro? Que história triste.
— Sempre leu para eu dormir, e nesta, vovô
    Há um final feliz, como as que me contou.
— Mas como se chama? Não minta pra mim.
— Me chamo amor. Como nos contos de fada
    E nas lições que sempre me ensinou, vovô.


* Itabirito, Minas Gerais.
Homenagem ao Grupo de Apoio Alzheimer de Itabirito 
http://www.recantodasletras.com.br/autores/liliacosta

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