Carlo Celso Lencioni Zanetti
Academia Caçapavense de Letras
________________________________________________________________
“A cela do
castigo é estreita, fria e não há nenhuma manta para o detento se cobrir. Pelo
buraco que serve de latrina, de vez em quando, sai uma ratazana que olha com
curiosidade o homem encolhido no canto. Fora, ouvem-se gritos e o barulho
habitual da prisão de Aguadores, uma das mais temidas de Cuba.”
“ (Wilman)
Vilar (Mendoza), que morreu após uma greve de fome, ganhava a vida fazendo
trabalhos de carpintaria e alvenaria. Sua especialidade eram as belas flores de
grande caule, em madeira, que os turistas compram para levar como lembrança da
ilha. Um caule com seis pétalas, talhado com a paciência de quem sabe que o
tempo, em Cuba, não vale muito e os minutos não o tornaram nem mais próspero
nem mais feliz.”
“Em Cuba,
como diz um amigo, “ninguém sabe o passado que o aguarda”.”
”A
necessidade de usar o corpo como praça pública da indignação, em uma ilha onde
protestar é proibido, foi determinante para o triste desenlace do dia 19 de
janeiro” (de 2012).
Trechos de artigo de YOANI SANCHEZ.
_________________________________________________________________________________
Vilar
tinha 31 anos...e sonhos de liberdade...
_________________________________________________________________________________
A cela do castigo é estreita
e não há nada que possa proteger
o corpo
do frio intenso que o congela à
morte,
se não morrer antes pela ação dos
seus algozes
ou pela fraqueza que lhe toma
conta,
maior que a força da alma que o
conforta.
A cela do castigo é estreita
como as mentes dos que a
conceberam,
embora capazes de inimagináveis
crueldades
em nome da ideologia que resiste
sucumbir...
Na solitária cela de onde os
olhos se afastam
só lhe dá companhia a ratazana
imunda
mas menos profana do que aqueles
que juntaram seus destinos
insólitos.
O ser que se encolhe ao canto,
não sente mais a dor intensa que
o domina,
recolheu ao fundo de si mesmo o
pranto
que gostaria de derramar, não por
si,
mas pelos que gritam em Aguadores
os sons que se eternizam na longa
noite
que sufoca a ilha de seus muitos
amores.
Pensa também naqueles que não
podem gritar
por lhes faltar a coragem do
gesto
ou por temerem pelos seus,
ameaçados pelo anonimato dos
bajuladores
sob o jugo da ditadura cruel,
de tantos apoiadores cegos de
alma
mas de olhos vivos a admirarem
Sua culpa, pensar. Seu mal, se
expressar.
O passado que não teve lhe foi
dado por seus algozes;
condenado pelas palavras,
fizeram-no maldito.
A bandeira em que se enrolou um
dia
sequer lhe servirá de mortalha,
pois,
os tiranos temem os símbolos de
afeto
por unirem os tiranizados.
O passado que lhe foi criado o
tornou mais um
a sucumbir sob as imposições do
pensamento único,
para regozijo e repugnante apoio
dos amigos brasileiros,
velhos – uns nem tanto -
camaradas, todos companheiros,
convidados ao eterno velório da
democracia cubana.
Seu corpo, “praça pública da
indignação”,
foi o local que lhe restou para o
protesto
que não lhe podem tirar ou impedir;
seu corpo é o palco da sua
imolação.
As flores de madeira enfeitarão,
agora, o seu caixão.
Flores sem perfume, mas contendo
nelas
o cheiro da morte injusta,
levado por elas além da ilha.
São elas, de uma só cor e sem
olor,
mais belas do que a estrela de
flores vermelhas
que enfeita a casa presidencial
brasileira.
Vermelhas como o sangue que corre
em Cuba!
Na cela escura, fétida e fria,
a ratazana espera uma nova
companhia...